Hoje é dia de
explorar um pouco a obra de Alda Espírito Santo (Devido ao fato de hoje ser quarta-feira,
ou seja, metade da semana, estaremos enviando um bônus, isto é ao invés de apenas
um poema do autor como acontece nos outros postes, o bônus dará mais uma obra
do mesmo autor. Um “happy hour” literário.)
Alda Espírito Santo ou
também conhecida como Alda Graça, nasceu em 1926, em São Tomé e Príncipe. Porém
em meados da década de 40 ela vai para Lisboa para estudar e por isso ela não
acaba não estando presente na libertação das colônias portuguesas da África. Ela
ocupou diversos cargos públicos no país, como Ministra da Educação e Cultura, Ministra da Informação e
Cultura, Presidente da Assembleia Nacional e Secretária-Geral da União Nacional
de Escritores e Artistas de São Tomé e Príncipe. Além disso, ela também foi a
autora da letra do hino nacional, Independência
Total. Ela é uma das poetizas africanas de língua portuguesa mais
conhecidas. Segue duas de suas obras:
É NOSSO O SOLO SAGRADO DA TERRA
O sangue caindo em gotas na terra
homens morrendo no mato
e o sangue caindo, caindo...
Fernão Dias para sempre na história
da Ilha Verde, rubra de sangue,
dos homens tombados
na arena imensa do cais.
Ai o cais, o sangue, os homens,
os grilhões, os golpes das pancadas
a soarem, a soarem, a soarem
caindo no silêncio das vidas tombadas
dos gritos, dos uivos de dor
dos homens que não são homens,
na mão dos verdugos sem nome.
Zé Mulato, na história do cais
baleando homens no silêncio
do tombar dos corpos.
Ai, Zé Mulato, Zé Mulato.
As vítimas clamam vingança
O mar, o mar de Fernão Dias
engolindo vidas humanas
está rubro de sangue.
- Nós estamos de pé -
nossos olhos se viram para ti.
Nossas vidas enterradas
nos campos da morte,
os homens do cinco de Fevereiro
os homens caídos na estufa da morte
clamando piedade
gritando pela vida,
mortos sem ar e sem água
levantam-se todos
da vala comum
e de pé no coro de justiça
clamam vingança...
... Os corpos tombados no mato,
as casas, as casas dos homens
destruídas na voragem
do fogo incendiário,
as vias queimadas,
erguem o coro insólito de justiça
clamando vingança.
E vós todos carrascos
e vós todos algozes
sentados nos bancos dos réus:
- Que fizeste do meu povo?...
- Que respondeis?
- Onde está o meu povo?
...E eu respondo no silêncio
das vozes erguidas
clamando justiça...
Um a um, todos em fila...
Para vós, carrascos,
o perdão não tem nome.
A justiça vai soar,
E o sangue das vidas caídas
nos matos da morte
ensopando a terra
num silêncio de arrepios
vai fecundar a terra,
clamando justiça.
É a chamada da humanidade
cantando a esperança
num mundo sem peias
onde a liberdade
é a pátria dos homens...
(GRAÇA, Alda)
LÁ NO ÁGUA GRANDE
Lá no "Água Grande" a caminho da roça
negritas batem que batem co'a roupa na pedra.
Batem e cantam modinhas da terra.
Cantam e riem em riso de mofa
histórias contadas, arrastadas pelo vento.
Riem alto de rijo, com a roupa na pedra
e põem de branco a roupa lavada.
As crianças brincam e a água canta.
Brincam na água felizes...
Velam no capim um negrito pequenino.
E os gemidos cantados das negritas lá do rio
ficam mudos lá na hora do regresso...
(GRAÇA, Alda)
Nesse bloco, (Que tal ler uma
poesia?) todos os dia você irá explorar a obra de um autor diferente de São
Tomé e Príncipe.
- Por Adriane Campelo
Uma grande mulher com uma grande história! Adorei o post!Estou emocionado com o primeiro poema!
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